Minha vovó Olga,
mãe da minha mãezinha, era simplesmente excepcional. Daquelas avós que, aos 80,
tinha amigos de 20, que, apesar de sarcástica, nunca perdia a candura, que
vivia doente sem motivo aparente e que sempre recebia as netinhas com uma lata
cheia de docinhos de leite em pó.
Amava o Sílvio
Santos. Quando contamos a ela, a fim de pregar-lhe uma peça, que seu ídolo
havia morrido, ela nos sai com a seguinte: ""Deixa de bobiça! O
dia em que Sílvio Santos morrer, o Brasil acaba!"
Ela morava num
apartamento pequeno, no qual tinha uma mesa de jantar absolutamente
desproporcional em relação ao tamanho da sala, mas muito adequada para o seu
propósito: receber as inúmeras visitas que passaram por ali, a quem ela servia,
sem o menor constrangimento, frango assado às 10 da manhã.
Sua casa era cheia
de lembrancinhas de casamentos, bodas e aniversários e repleta de fotos dos
cinco filhos e dos onze netos. Sempre que a visitava, adorava ver cada uma
dessas suas coisinhas.
Além de um
sapatinho de porcelana com plumas cor-de-rosa e purpurina dourada (lembrança de
algum aniversário de 15 anos), o que mais gostava era do galo que previa o
tempo.
Era um galinho que
ficava no alto do armário da vovó e mudava de coloração de acordo com as
condições climáticas.Vovó tinha muito cuidado com ele.
Quando ela se foi,
pouco antes da Rebeca nascer, pedi à minha tia o galo, caso ninguém o quisesse.
Ela me enviou.
Hoje, mais
desbotado do que nunca, ele ocupa um lugar de destaque no armário da minha
cozinha, como não poderia deixar de ser, e, apesar de não prever mais o tempo,
está sempre ali me lembrando, faça chuva ou faça sol, da saudade apertada que
sinto da minha vovó tão querida.